A ciência da inclusão #04 – Coluna de Felipe Gruetzmacher

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A ciência da inclusão #04 - Coluna de Felipe Gruetzmacher

O que ativa a inclusão socioeconômica das pessoas com deficiência?

O acesso ao mercado de trabalho é um direito!

O livro “Além das limitações: uma jornada pela história da deficiência e da sociedade do cuidado” fornece muito conteúdo sobre pessoas com deficiência que marcaram a história e estimula reflexões sobre o passado, o presente e futuro da inclusão.

As autoras Pérola de Paula Sanfelice e Daniele Shorne de Souza explicam muitos conceitos de forma didática e numa linguagem simples. Além disso, a obra tece comentários sobre principais leis e políticas voltadas para o avanço da pessoa com deficiência. Assim, por exemplo, o livro traz informações específicas sobre o direito de acesso ao mercado de trabalho.

Sintetizei as conquistas históricas sobre o direito de acesso ao mercado de trabalho em 4 pontos principais:

    • Reserva de cargos e empregos em todos os concursos públicos;
    • Reserva de 2% a 5% de cargos nas empresas com 100 ou mais empregados;
    • Não sofrer discriminação em relação a salário ou critério de admissão;
    • Direito à habilitação e reabilitação profissional com o objetivo de se capacitar para obter trabalho, conservá-lo e também progredir profissionalmente.

Esse trecho do livro serve para expandir o conhecimento e a consciência das pessoas com deficiência sobre o direito à inclusão no mercado de trabalho.

Pontos de conexão entre as conquistas e as jornadas profissionais das pessoas com deficiência

A partir dessa seção, você vai entender como os avanços citados anteriormente se conectam com casos de inclusão bem-sucedida. Até porque histórias assim merecem ser propagadas!

O exemplo abaixo serve para apresentar uma dessas narrativas:

    • Mari trabalhava como bancária numa instituição privada e fez curso de administração. Sempre amou tecnologia. Ingressou no Projeto Jornada Tech para transformar a paixão por tecnologia numa profissão.

A Jornada Tech e a história de Mari são exemplos de como as conquistas relacionadas à inclusão no mercado de trabalho podem ser efetivadas. Até porque a acessibilidade precisa ser acompanhada de qualidade. Não basta incluir só para cumprir cotas.

Sendo assim, a conexão entre diversidade e mercado de trabalho depende de quais fatores?

A inclusão socioeconômica das pessoas com deficiência depende de critério técnico, estratégia e avanços na legislação. Dessa forma, é possível incluir com qualidade, assim como alinhar talentos diversos com as demandas corporativas. Atrair, desenvolver e manter pessoas em organizações empresariais é uma forma da empresa reafirmar o compromisso dela com a inovação e a gestão de talentos. Esses fatores se traduzem em oportunidade de desenvolvimento profissional e empresarial, gerando ganhos para empresa e colaboradores.

Além disso, qual seria a conexão entre acesso ao mercado de trabalho e ODS?

No ano de 2016, foram propostos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) pela ONU com o propósito de resolver problemas mundiais. Esses ODSs agregam maior clareza em projetos sociais, pois os resultados conseguem ser mais mensuráveis e perceptíveis.

Os ODS direcionam ações para ampliar o resultado e a transformação social.

Em função disso, os ODS que se destacam na promoção do acesso ao mercado são:

    • ODS 4 –  Garantir o acesso à educação inclusiva, de qualidade e equitativa, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos
    • ODS 8 – Promover o crescimento econômico inclusivo e sustentável, o emprego pleno e produtivo e o trabalho digno para todos
    • ODS 10 – Reduzir as desigualdades no interior dos países e entre países.

Podemos sonhar com um mundo melhor e mais inclusivo? Sim! Basta que a inclusão e o acesso ao mercado de trabalho aconteçam com oportunidades de desenvolvimento técnico e aplicação de boas práticas de inclusão.

Oportunidades para a pessoa com deficiência impacta todo o ecossistema de negócios e ativa uma robusta transformação social.

Para reafirmar a importância de talentos diversificados no ambiente corporativo, menciono sobre um pouco mais sobre o Jornada Tech:

    • O Jornada Tech foi uma iniciativa do BTG Pactual executada pela ASID Brasil e a escola de tecnologia Alura. O propósito era promover a inclusão no nicho de programação. Até porque o desenvolvimento de tecnologias acessíveis demanda a inclusão de pessoas com deficiência no universo tech.

      Quer saber mais sobre o Jornada Tech? Acesse o post final do Jornada. 

Espero que essa história relatada reforce sua esperança em um amanhã melhor! 

Felipe Emilio Gruetzmacher 
ASID Brasil – 2023

Referências:

SANFELICE, P. P; SOUZA, D. S. Além das limitações: uma jornada pela história da deficiência e a sociedade do cuidado. 1 ed. Curitiba: Farol dos Reis, 2023. Acesse aqui

Sobre o autor:

Felipe Gruetzmacher é um escritor que acredita muito no potencial de combinar ciência, esforços empresariais e projetos sociais. Tem interesse em estudar como essas três partes podem colaborar entre si.
Se você é algum empresário, organização do terceiro setor ou cientista e quer cocriar conosco, deixe seu comentário!

 

Sobre a ASID Brasil:

A ASID Brasil é uma ONG que promove a inclusão socioeconômica da população com deficiência. Somos agentes empreendedores que alcançam a excelência realizando mudanças sociais movido a metodologias, estudos e inteligência plural.

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Inovação Social #04 – Coluna de Leonardo Mesquita

Inovação Social #04 - Coluna de Leonardo Mesquita

O trabalho em rede e a concorrência no terceiro setor

Na coluna deste mês, seguimos compartilhando relatos e provocações reais de nossa comunidade de organizações parceiras.

Em um encontro presencial com organizações sociais de Curitiba, discutimos quais os principais requisitos para fortalecer o movimento de inclusão na cidade, na perspectiva da articulação de agentes locais. Essa foi uma conversa muito rica, onde as lideranças participantes compartilharam oportunidades, expectativas e desafios.

Uma das questões compartilhadas foi a percepção de concorrência entre as organizações, no sentido de que nem todas estão abertas para compartilhar seus conhecimentos, estratégias, com um receio de perder parceiros ou recursos. Foi compartilhado também a percepção de que organizações de menor porte não conseguem a mesma visibilidade daquelas de maior porte, dificultando assim a visibilidade de suas marcas na busca por novas oportunidades de captação de recursos.

Esses questionamentos me chamaram a atenção e fiquei pensando sobre os relatos compartilhados. Não pretendo responder essas questões, mas sim refletir a respeito.

De fato, também percebo em alguns momentos algo próximo ao que foi chamado de “concorrência no terceiro setor”. A primeira suposição que faço é a rotina intensa das organizações, de qualquer porte, em buscar sua sustentabilidade financeira. Aqui, as equipes das organizações buscam estratégias, investem grande esforço para que possam captar os recursos necessários para manter seus projetos. Talvez exista algum sentimento de “justiça”, no sentido de que uma organização se esforçou para viabilizar aqueles recursos e seria “injusto” simplesmente passar a receita pronta para outra organização. Mas aqui, indo para um campo material, não podemos deixar de avaliar como se dão as principais fontes de captação para projetos sociais.

Dados do BISC (Benchmarking do Investimento Social Corporativo), trazem que o investimento social corporativo (ISC) movimentou 4 bilhões de reais em 2022. Apenas 4% desse valor foi destinado a projetos para o público com deficiência. Já na perspectiva de editais e fundos públicos, como por exemplo o Pronas, foram solicitados 95 milhões de reais em projetos, no ano de 2021, e foram aprovados e liberados 71 milhões. Em 2023, como comparativo, a plataforma de monitoramento do Pronas sinaliza apenas 6 projetos solicitados, totalizando um orçamento de aproximadamente 7 milhões de reais. Por fim, não podemos desconsiderar os recursos livres que são viabilizados por campanhas de doações, financiamentos coletivos, venda de produtos, entre outras modalidades.

O investimento social em projetos voltados ao público com deficiência me parece ser pequeno relativo aos demais eixos de diversidade. Mas mesmo sendo um “bolo pequeno”, como as organizações estão compartilhando essas fatias?

Aqui chego em uma segunda reflexão, também sem respostas certas ainda. Tenho a percepção que ainda não usamos todo o potencial de articulação de redes locais para resolver os problemas sociais complexos de nossas comunidades.

    • Estamos olhando para indicadores socioeconômicos gerais de nossas comunidades (bairro ou cidade)? Estamos olhando para o contexto das famílias que chegam até nossas instituições?
    • Estamos conscientes sobre nossos potenciais enquanto organização e nossas metodologias e, principalmente, estamos conscientes das nossas limitações de atuação perante as diversas demandas sociais que chegam até nós?

Entendo que, ao olharmos para nossas fortalezas e fraquezas, abrimos um espaço para o estabelecimento de parcerias e articulações locais. Compreendemos que aquilo que desenvolvemos com maestria pode preencher lacunas em outros contextos, e que as minhas lacunas podem ser preenchidas por metodologias externas. Sempre na perspectiva de solucionar as demandas sociais que percebemos em nossas comunidades.

E voltando à provocação inicial relacionada com a captação de recursos: estamos olhando para nossas metodologias como um potencial de captação de recursos e geração de impacto social positivo?

Enquanto organizações sociais, com metodologias complementares, como estamos nos articulando localmente, estabelecendo parcerias para escrita conjunta de editais, contratação de organizações em projetos, criação de campanhas conjuntas para captação de recursos?

O tema de articulação em redes é muito interessante e também muito complexo. Em parceria com Instituto Mara Gabrilli, disponibilizamos gratuitamente o material digital “Rede: Conceitos, serviços e dinâmicas”, uma introdução a esse tema. O material está disponível aqui no site da ASID, na nossa seção de conteúdos.

Em colunas futuras, vou buscar abordar outras ferramentas de articulação, como o modelo de “Impacto Coletivo”. Por fim, o olhar para as nossas fortalezas tem grande influência em como comunicamos nosso impacto e damos maior visibilidade às nossas marcas, outro tema que terei grande interesse em compartilhar em nossas colunas.

Quero muito saber como estão as articulações locais em sua cidade e como você percebe a questão da concorrência no terceiro setor. Vamos conversar pelo seguinte endereço: [email protected]

Sobre o autor:

Leonardo Mesquita é especialista em Gestão de Projetos Sociais e certificado em Lideranças de Inovações Sociais. É graduado em Engenharia de Computação e há 7 anos atua na ASID Brasil, liderando articulações de comunidades e processos de inovação social dentro da causa da pessoa com deficiência. Já esteve envolvido na coordenação de programas de voluntariado. Léo escreve sobre inovação social, ODS e como conectamos essas pautas com a causa da pessoa com deficiência.

 

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Diversidade e Literatura #04 – Coluna de Edilayne Ribeiro

Diversidade e Literatura #04 - Coluna de Edilayne Ribeiro

E se nós tivéssemos apenas 4 sentidos?

Você se lembra do texto anterior, no qual abordamos a deficiência sob a perspectiva da “defectologia” – termo desenvolvido por Vygotsky, que buscava dar ênfase aos aspectos totais, positivos e interacionistas da criança, em vez de segregá-la pelas características de sua deficiência?

Pois bem… Vygotsky foi inovador nesse tema quando, além de estudar tudo isso, abriu um questionamento importante: e se o ser humano fosse dotado não de 5 sentidos, mas de 4, como seria formado seu conhecimento e como aconteceria seu desenvolvimento?

Antes de contar qual foi a conclusão de Vygotsky, vale contextualizar: o ser humano possui 5 sentidos, certo? Errado! A neurociência apontou, muito recentemente, que temos 7! Além dos conhecidos, que são o olfato, a visão, a audição, o tato e o paladar, também temos a interocepção (que é a percepção do nosso cérebro sobre a informação que acontece em nosso organismo, como por exemplo a fome, a respiração, o funcionamento do nosso estômago, etc) e a propriocepção (que é a percepção do nosso cérebro sobre o nosso corpo no mundo, ou seja, nossa postura, gestos, coordenação e equilíbrio durante um movimento, e outros).

Nessa linha de raciocínio, a neurociência também afirmou que os novos sentidos descobertos são ainda mais importantes que aqueles sentidos clássicos, porque são eles que vão nos ajudar a saber se nossa saúde está boa, se estamos mantendo nossas necessidades em dia e se estamos reagindo bem às interações do nosso corpo no espaço.

Agora, relacionando as novas informações ao tema principal, sabe o que Vygotsky nos dizia desde aquela época? Que a criança não sente diretamente a deficiência, mas que percebe as dificuldades que derivam dela, e por isso é importante que as crianças estejam muito bem inseridas socialmente, com a garantia de uma educação inclusiva e boas perspectivas de futuro, porque o que decide o destino de suas personalidades não é a deficiência em si mesma, mas suas consequências sociais.

Parece que, dessa forma, mesmo um século depois, estamos conseguindo fazer valer as ideias de um autor que tanto lutou por um desenvolvimento infantil respeitoso, de crianças com ou sem deficiência, né?!

Vygotsky, especialmente em seu livro “Problemas da Defectologia” (2021), entendia que as características próprias da deficiência criam uma tendência elevada para o desenvolvimento. Como assim? Explico: as dificuldades físicas, sensoriais e intelectuais formam um processo de criação e recriação da personalidade, reestruturando todas as funções de adaptação, de formação de novos processos de desenvolvimento e de trilha para novos caminhos. E que isso é fortalecido pela interação social, claro, conforme já vimos; mas também acontece por meio da própria capacidade de adaptação da pessoa com deficiência.

O autor dizia que, em resumo, o desenvolvimento da criança é direcionado para o alcance de um nível social necessário, e que isso acontece por meio de três momentos: a inadaptação da criança ao meio sociocultural cria obstáculos em seu crescimento → esses obstáculos servem de estímulo para o desenvolvimento compensatório, gerando também uma perspectiva de futuro → a presença desses obstáculos eleva as funções do nosso corpo e do nosso cérebro ao aperfeiçoamento, superando-os e, com isso, adaptando-se ao mundo.

Com base no autor, diante de todo esse processo, a personalidade da criança com deficiência se equilibra e busca compensações, considerando o seu próprio processo de desenvolvimento e adaptação. A educação tem um papel fundamental para isso acontecer, e Vygotsky advoga fortemente por isso! Ele diz, na página 33 de seu livro, que “o importante não é que o cego veja as letras, mas que saiba ler”, em outros termos, que tenha um ensino personalizado e adaptado e que tenha espaço para seu próprio processo de adaptação à vida, apesar das características existentes por conta de sua deficiência.

Assim sendo, eu volto a perguntar… E se nós tivéssemos apenas 4 sentidos?
Para Vygotsky (e, agora, para a neurociência), nada de substancial mudaria em nosso conhecimento e desenvolvimento, porque o pensamento continuaria sendo o mesmo, já que a forma como experienciamos a nossa realidade é o que realmente importa – com 4, 5, 7 ou 1.000 sentidos, nós nos adaptamos! Mas e no sentido social… Será que é bom que nada de substancial mude?

Ainda não alcançamos uma verdadeira equiparação na realidade das pessoas com deficiência dentro de um mundo feito para pessoas sem deficiência. Nossos esforços, então, deveriam estar direcionados para criar uma sociedade na qual a presença de uma deficiência não represente uma barreira, e, nesse contexto, nada de substancial mudaria em termos de valor, dignidade e potencial humano, mas em termos de estrutura da sociedade tudo, sim, precisaria mudar.

Edilayne Ribeiro 
ASID Brasil – 2023

VIGOTSKI, Lev Semionovitch. Problemas da defectologia. São Paulo: Expressão Popular, 2021.

Sobre a autora:

Edilayne Ribeiro é psicóloga, especialista em Neuropsicologia e mestra em Educação, membra da Comissão de Educação Inclusiva da Universidade Tuiuti do Paraná e palestrante nos temas pessoa com deficiência e sexualidade. Atualmente é Líder na ASID em Projetos de inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho.

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Diversidade e Literatura #03 – Coluna de Edilayne Ribeiro

Diversidade e Literatura #03 - Coluna de Edilayne Ribeiro

Você sabia que o estudo da deficiência era chamado de “defectologia”?

O nome “defectologia” assusta um pouco, né? Mas, calma! Existe uma explicação e todo um contexto por trás – se quiser saber mais sobre terminologias antigas, sua inadequação e também sua importância na história, leia este artigo Você já imaginou como era o mundo sem inclusão e será sobre isso que vamos abordar no texto de hoje.

Ah, e haverá uma continuação deste tema na coluna do próximo mês, então continue acompanhando!

A defectologia foi uma teoria estudada por um autor chamado Lev Vygotsky, por volta do século XX, e nada mais é do que uma palavra equivalente à “deficiência”, que usamos hoje! Na época, contudo, a defectologia derivava de “defeito”, que era a forma que autores como Vygotsky se referiam à deficiência. Apesar de, atualmente, rejeitarmos o uso dessa palavra nos contextos da inclusão, isso não invalida a grandiosidade da teoria, que foi uma das primeiras a focar no potencial da pessoa com deficiência, em vez de em suas limitações. Vygotsky dizia “devemos estudar não o defeito, mas a criança com um determinado defeito”, isto é, a criança em sua totalidade, com seus aspectos físicos e emocionais, seus comportamentos, interação em sociedade, o próprio curso do desenvolvimento infantil, sua capacidade de compensação e adaptação, vontades, objetivos e habilidades, para além de sua deficiência. Isso nos faz lembrar muito do motivo pelo qual lutamos tanto para dizer “PESSOA COM deficiência”, não é verdade?

No próximo texto eu levantarei mais detalhes sobre a capacidade de compensação de adaptação das pessoas com deficiência, mas por ora quero destacar outro elemento que citei no parágrafo acima: a interação em sociedade.

Vygotsky era professor e pesquisador nas áreas de Psicologia, Filosofia e Literatura, além de ter passado por universidades de Medicina, Direito e História, e em todas essas áreas seu grande tema de estudo foi a interação social, tanto é que fundou a teoria sociointeracionista, cujo princípio era a interação social como contribuinte para o desenvolvimento cognitivo. Explico melhor: estar dentro de um ambiente coletivo, com convivência, mediação de outros atores (ex.: professores, livros, natureza, tecnologia…) e a cultura é o que ajuda a nos desenvolvermos!

E o que isso tem a ver com inclusão? Bom, tem tudo a ver!

Vygotsky dedicou grande parte de sua curta vida (ele morreu cedo demais: aos 37 anos!) para aplicar todos esses temas aos estudos da “defectologia”, defendendo que mais do que as características de uma deficiência, é o meio social que pode causar grandes prejuízos para a vida da criança com deficiência. Por exemplo: a medida que a criança com deficiência vai percebendo conceitos de “normalidade” e “anormalidade”, ou é afastada do convívio coletivo, ou é tratada como um “mini-adulto”, ou frequenta uma escola que a segrega de crianças sem deficiência, é aí que se intensificam os impactos da deficiência em sociedade, sendo muitas vezes o motivo para que se agravem sentimentos de inferioridade, rejeição, distanciamento de si e do outro, problemas psicológicos e muito mais.

Com isso, percebemos, de uma vez por todas, que o problema não está e nunca esteve na deficiência. O problema, ao qual devemos estar ativamente na luta por combater, é nos desdobramentos que uma característica física, sensorial ou intelectual podem ter em sociedade; o incômodo e o medo que isso gera; a dúvida; a falta de oportunidade; a falta de métodos de ensino especializados; o desrespeito pelos processos naturais de um ser humano; a não consideração de sua existência completa… a fragmentação, a segregação, o preconceito!

O autor propõe, portanto, que a colaboração coletiva (ou seja, a interação) seja uma forma de superar essas barreiras.

Em seu livro “Problemas da Defectologia” (traduzido para o português pela primeira vez em 2021), Vygotsky rompe com as definições médicas, pedagógicas e psicológicas da época, que se preocupavam apenas com a identificação de sinais, de “defeitos”, que constatassem uma deficiência, em vez de com os aspectos positivos da personalidade e das habilidades de alguém. Para o autor, as crianças com deficiência não têm nenhum atraso em seu desenvolvimento; elas apenas atingem o desenvolvimento de outro modo – e é essa a percepção que deve acompanhá-las pelo resto de suas vidas!

Edilayne Ribeiro 
ASID Brasil – 2023

 

RIBEIRO, Edilayne Marjori. A (in)visibilidade do inglês nos anos iniciais do ensino fundamental (6 A 10 anos): um estudo de produções científicas. 2023. 124 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, 2023. Disponível em: https://tede.utp.br/jspui/bitstream/tede/1944/2/A%20%28IN%29VISIBILIDADE%20DO%20INGLES.pdf.

Sobre a autora:

Edilayne Ribeiro é psicóloga, especialista em Neuropsicologia e mestra em Educação, membra da Comissão de Educação Inclusiva da Universidade Tuiuti do Paraná e palestrante nos temas pessoa com deficiência e sexualidade. Atualmente é Líder na ASID em Projetos de inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho.

Sobre a ASID Brasil:

A ASID Brasil é uma ONG que promove a inclusão socioeconômica da população com deficiência. Através dos pitches e pesquisas, a ASID Brasil entende melhor o cenário para oferecer sempre uma solução bem segmentada e focada nas dores dos beneficiários. Nossa literatura é uma forma de inovação social e bom uso de informações e dados para impactar o ecossistema de inclusão. Somos agentes empreendedores que alcançam a excelência realizando mudanças sociais movido a metodologias, estudos e inteligência plural.

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A ciência da inclusão #03 – Coluna de Felipe Gruetzmacher

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A vitória das mulheres

O que potencializa os direitos das mulheres?

Este texto resume algumas das principais ideias do artigo “Why Women Won” (Porque as mulheres ganharam) de Claudia Goldin, ganhadora do Prêmio Nobel da Economia em 2023.

Essas ideias acadêmicas serão apresentadas na forma de um pitch corporativo. Assim, o empresariado, o terceiro setor e intelectuais terão maior facilidade em se conectar e estabelecer um diálogo. A combinação de esforços desses três setores facilitará a aplicação das descobertas da ciência econômica no empreendedorismo e ecossistema de impacto social.

O artigo “Why Women Won” menciona como as mulheres americanas conquistaram o direito de possuir propriedades, manter rendimentos, redigir contratos, documentos legais, gerenciar negócios e acessar educação escolar. Estes mesmos direitos se expandiram no século XX, incluindo votar em eleições federais, usufruir de igualdade nas escolas e trabalho, bem como escolher sobrenomes, fazer parte de júris, obter crédito e exercer controle sobre os corpos.

Assim, ocorreram avanços em termos de direitos das mulheres nos locais de trabalho, na educação e demais aspectos do cotidiano no final da década de 1960 e no início dos anos 1970. Tais ganhos estimularam o movimento das mulheres e iniciou a reivindicação e aprovação de mais direitos. A maioria desses direitos foram adicionados cerca de cinquenta anos depois que as mulheres conquistaram o direito de votar.

 Ou seja, a expansão dos direitos civis ocorrida no final dos anos 1960 estimulou a ampliação dos direitos das mulheres. O direito ao voto das mulheres veio acompanhado pela premissa de que o direito ao voto não pode ser negado em função da raça ou sexo.

Anteriormente, por exemplo, as mulheres enfrentaram terríveis discriminações entre os anos de 1950 e 1960, em se tratando de remuneração, contratação e progressão na carreira.

O movimento de reivindicação de direitos civis apoiou a organização das mulheres, além de fornecer estratégias jurídicas para demandar direitos específicos para as mulheres.

Leis foram criadas para esta finalidade, por exemplo. A autora do artigo menciona sobre as mudanças nas percepções das pessoas sobre os papéis desempenhados pelas mulheres na sociedade.

Somente no final de 1990 é que a maioria dos norte-americanos pensava que se podia confiar a gestão do governo, das empresas e indústria às mulheres.

Como ampliar os potenciais e as oportunidades das mulheres com deficiência?

Muitas empresas investem em projetos para apoiar mulheres com deficiência, mães de crianças com deficiência ou cuidadoras de familiares com deficiência. São projetos que ampliam a qualidade de vida das mulheres. Esse investimento para suprir demandas sociais deve acontecer prioritariamente pelo propósito empresarial de construir um mundo melhor e mais acessível.

Agora, muitos bons casos de projeto empresarial de impacto social podem ser inspirações para expandir os direitos das mulheres em variados contextos. É o terceiro setor atuando onde o Estado não alcança. Nesses pontos, estudos acadêmicos e pesquisas científicas podem fornecer o know-how necessário, capital humano e critérios técnicos para profissionalizar ainda mais a execução de projetos sociais.

Além disso, o apoio da comunidade acadêmica fornece credibilidade para os projetos sociais e pode até mesmo identificar as demandas sociais. Essa combinação de esforços entre comunidade científica, poder público, terceiro setor e empresariado pode facilitar a criação de leis para ampliar a qualidade de vida de públicos bem específicos como mulheres, por exemplo.

Fora isso, o impacto social gerado por essa combinação de esforços pode modificar muitas percepções das pessoas, consumidores e cidadãos. Todas as pessoas desejam as mesmas coisas: moradia, emprego, laços sociais, saúde e possibilidades de crescer na vida. Por isso, é imprescindível que todos os públicos estejam com interesses alinhados para expandir direitos e demandar soluções empresariais capazes de melhorar o dia a dia das pessoas. 

Um bom exemplo disso é a flexibilização de horários para que mães possam conciliar jornadas de trabalho e rotina pessoal. Só essa medida gera resultados positivos para variados perfis de mulheres, não importando classe social, raça, sexualidade ou se a criança cuidada tem deficiência ou não.

Agora, esse contexto citado demandaria repensar a área de RH, modernizar direitos trabalhistas e a possibilidade da mulher em planejar a própria carreira. Nessa economia mais acessível e acolhedora, ganharão as empresas, organizações públicas e do terceiro setor que atenderem melhor clientes, cidadãos e colaboradores. O mérito de entregar melhores soluções prevalecerá. 


Felipe Emilio Gruetzmacher 
ASID Brasil – 2023

Referências:

GOLDIN, Claudia.Why Women Won. National Bureau of Economic Research, Cambridge, Oct. 2023.

https://www.nber.org/system/files/working_papers/w31762/w31762.pdf

 

Sobre o autor:

Felipe Gruetzmacher é um escritor que acredita muito no potencial de combinar ciência, esforços empresariais e projetos sociais. Tem interesse em estudar como essas três partes podem colaborar entre si.
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Inovação Social #03 – Coluna de Leonardo Mesquita

Inovação Social #03 - Coluna de Leonardo Mesquita

As engrenagens de uma inovação social

No final do ano de 2023 recebi o contato de uma parceira da Comunidade Conexões que estava em busca de apoio para reorganizar sua instituição. Suas lideranças sentiram a necessidade de encontrar um novo modelo de negócio para a organização. Iniciamos então nossas primeiras conversas.

Ao compreender melhor os desafios, entendi que ela possuía uma grande estrutura, com vários tipos de atendimentos e projetos, e que um bom caminho para enfrentar esse desafio seria entender a organização como um conjunto de modelos de negócio, ou melhor, que cada projeto da organização talvez tenha um modelo mais indicado.

Com essa abordagem, quebramos o desafio em partes menores, mais gerenciáveis e com margem para adequar algumas especificidades e definir prioridades. Mais do que encontrar uma solução única (e às vezes mágica para a instituição como um todo), buscamos encarar tudo como um projeto, independentemente do seu tamanho e entendendo que cada um desses projetos irá demandar por recursos financeiros, pessoas, metodologias e tempo.

Lembro que, em uma das conversas, chegamos a uma reflexão de que seria melhor “entender e mexer nas engrenagens do que no sistema como um todo”. Essa frase me marcou naquele momento e me conectou com uma outra metodologia do meio corporativo que conheci anos atrás e que agora busco um paralelo com o setor social: “Os Dez Tipos de Inovação”.

Essa metodologia é de autoria de Larry Keeley, Ryan Pikkel, Brian Quinn Helen Walters, disponibilizada no livro dos mesmos autores intitulado “Dez Tipos de Inovação, A Disciplina de Criação de Avanços de Ruptura” (DVS EDITORA).

O livro traz a ideia de que uma empresa pode inovar de diversas maneiras para aumentar sua produtividade ou competitividade. Não dependendo apenas de uma “sacada genial” ou um “produto disruptivo”. Podemos segmentar toda a sua estrutura e olhar para essas segmentações como potenciais campos de inovação.

Os dez tipos de inovação são separados em três categorias: Configuração, Oferta e Experiência. Os tipos de inovação são organizados nessas categorias como na lista a seguir:

  1) Configuração

  • Modelo de lucratividade: Como a empresa ganha dinheiro.

  • Rede: Como a empresa se conecta com os outros.

  • Estrutura: Como a empresa é organizada.

  • Processo: Como a empresa faz as coisas.

      2) Oferta
  • Desempenho do produto: Como o produto funciona.

  • Sistema do produto: Como o produto é composto.

      3) Experiência
  • Serviço: O que a empresa faz por seus clientes.

  • Canal: Como a empresa entrega seus produtos e serviços.

     

  • Marca: Como a empresa é percebida pelos clientes.

     

  • Envolvimento do cliente: Como a empresa interage com os clientes.

Com isso, a metodologia nos permite identificar oportunidades de inovação, desenvolver novos produtos e serviços e melhorar os produtos e serviços existentes.

Voltando para nosso caso inicial, quando citamos a ideia “engrenagens de um sistema”, logo lembrei dos Dez Tipos de Inovação e como poderíamos quebrar aquele desafio em segmentos menores. A partir dessa segmentação, compreender em cada projeto as suas estruturas, processos, custos e oportunidades de financiamento.

É interessante uma atenção para os aspectos de experiência dos “clientes” ou, nesse caso, das famílias atendidas pela organização. Entender as oportunidades de melhoria considerando as categorias citadas acima e ajustar as engrenagens para que esse grande sistema continue gerando impacto social e transformação local e de uma forma sustentável.

Sobre o autor:

Leonardo Mesquita é especialista em Gestão de Projetos Sociais e certificado em Lideranças de Inovações Sociais. É graduado em Engenharia de Computação e há 7 anos atua na ASID Brasil, liderando articulações de comunidades e processos de inovação social dentro da causa da pessoa com deficiência. Já esteve envolvido na coordenação de programas de voluntariado. Léo escreve sobre inovação social, ODS e como conectamos essas pautas com a causa da pessoa com deficiência.

 

Sobre a ASID Brasil:

A ASID Brasil é uma ONG que promove a inclusão socioeconômica da população com deficiência. Através dos pitches e pesquisas, a ASID Brasil entende melhor o cenário para oferecer sempre uma solução bem segmentada e focada nas dores dos beneficiários. Nossa literatura é uma forma de inovação social e bom uso de informações e dados para impactar o ecossistema de inclusão. Somos agentes empreendedores que alcançam a excelência realizando mudanças sociais movido a metodologias, estudos e inteligência plural.

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2023 de muita aliança pela inclusão!

Nos encontramos em 2024
Nos encontramos em 2024

2023 de muita aliança pela inclusão!

O fim do ano chegou!

Ao fazermos uma retrospectiva, corremos o risco de nos surpreender com tanta coisa que aconteceu em 2023, quer ver só?!

Foram 23 projetos executados ao longo do ano e que fomentaram a inclusão social e econômica da pessoa com deficiência.

Fizemos alianças para a inclusão em pelo menos 84 cidades do Brasil via Comunidades ASID e 31 delas receberam o impacto das soluções ASID Brasil. E, falando em viagens, a equipe ASID comemorou os 13 anos da organização juntinha em Curitiba!

A ASID “saiu de casa” e participou de eventos e mobilizações importantes para o ecossistema social. Participamos de eventos importantes como FIFE, GIFE, reuniões de conselhos municipais, eventos na intensa São Paulo, Fórum Brasileiro de Microempreendedorismo em Brasília e ainda marcamos presença em NY, com o Camp 2030

Aliados e aliadas da causa nos ajudaram a conquistar o Prêmio Aplaude via votação popular. E, ainda conquistamos o Selo Sesi ODS 2023 com a Solução Mais Educação.

Fomos contemplados com os recursos do Nota Curitibana, além da doação via MorangoFest (bolo Pavlova maravilhoso!).

E falando em maravilhoso, celebramos o jogo do Athletico com 14 pessoas com deficiência representando o Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência em pleno caldeirão.

Chegamos no fim do ano com um livro e um E-book Inclusão e Diversidade lançados. Além disso,  reconhecemos às empresas aliadas em um bonito evento presencial, e nossos embaixadores e colunistas ASID bombaram nas redes sociais!

E à você, queremos agradecer. Esperamos que, junto dessa breve retrospectiva, você se lembre e sinta o quão importante é para a ASID Brasil.

A sua conectividade com a causa da pessoa com deficiência transforma a sociedade para ser inclusiva, democrática e diversa.

Obrigada por 2023.
Nos encontramos em 2024.

Grande abraço, equipe ASID 

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A ciência da inclusão #02 – Coluna de Felipe Gruetzmacher

A ciência da inclusão #02 - Coluna de Felipe Gruetzmacher

O que a ciência diz sobre si mesma?

Como a produtividade da ciência é medida?

Este texto foi escrito com o intuito de resumir os principais pontos do artigo “A avaliação da produtividade científica”. Os autores são Marcos Antônio Mattedi e Maiko Rafael Spiess.

 

Essas principais informações científicas serão reunidas num pitch corporativo. O propósito é reescrever a ciência com palavras empresariais para atrair a atenção da intelectualidade, empreendedores e a pauta da pessoa com deficiência. Entender como a atividade científica é mensurada pode fornecer bons insights sobre a posição dela no contexto do ecossistema de inclusão.

O artigo “a avaliação da produtividade científica” traz muitas respostas para a pergunta acima. Cientistas divulgam pesquisas através da escrita de artigos científicos. Assim, eles publicam os mesmos em revistas acadêmicas. Algumas revistas são mais prestigiadas e reconhecidas do que outras. Logo, o propósito do cientista é publicar uma certa quantidade de artigos em revistas de enorme relevância e numa certa quantidade por ano.

Então, o artigo científico ocupa um lugar central para mensurar a produtividade dos cientistas, por exemplo. Se a revista que citou algum estudo é relevante e reconhecida, maior é o impacto do mesmo estudo, assim como maior produtividade do cientista. 

Além disso, o pesquisador almeja que seu estudo seja citado em artigos de outros cientistas, o que agrega para a produtividade dele. O cientista bem avaliado pode acessar recursos como: financiamento, bolsas, recrutar outros pesquisadores, ganhar prêmios e alcançar maiores níveis na carreira.

 Logo, a primeira questão é: Esse jeito de mensurar o desempenho dos cientistas pode reforçar monopólios de recursos. Afinal, cientistas que têm acesso a esses recursos podem avançar na carreira acadêmica com maior rapidez e velocidade do que os demais. Agora, como fazer ciência sem acesso a recursos estratégicos? Infelizmente, na maioria dos casos, todo o esforço do cientista está centrado na escrita do artigo.

Este “produto final” é o item mais valorizado na pesquisa científica, o que “apaga” todo o contexto anterior vivenciado pelo cientista no dia a dia.

Essa valorização do artigo científico levanta uma outra questão: como estimular e valorizar todas as formas de pesquisa científica?

Estudiosos e cientistas poderiam ser amplamente beneficiados por uma nova forma de avaliar o trabalho deles. Para tanto, essa nova forma deve promover a investigação das situações em que cientistas trabalham e não só o produto final, o artigo. É entender o contexto completo.

Exemplos desse novo tipo de avaliação podem ser citados:

 

  • Cientistas de renome e amadores podem atuar em equipe, analisando um mesmo problema;

  • Organizações de pacientes podem atuar como “especialistas leigos”, fornecendo sabedoria prática sobre doenças, o que gera insights inéditos para médicos. Todo esse trabalho envolve muita colaboração.

Enfim, a agenda de pesquisa científica deve englobar mais partes interessadas na produção científica, redefinindo o trabalho dos cientistas, assim como a função do artigo como método de divulgação. Isso tudo envolve levar em consideração o cotidiano, o contexto e as partes interessadas na ciência na avaliação do trabalho científico e não só o resultado final. 

Ponto de conexão

A conexão entre o terceiro setor e o pitch

Em muitos contextos, projetos de inclusão do terceiro setor focam muito mais em números e indicadores. Cabe perguntar: esses indicadores refletem a transformação entregue para a vida das pessoas com deficiência? Como mensurar essa transformação, já que é algo mais qualitativo? O terceiro setor pode colaborar com cientistas para a realização de estudos que embasam projetos de inclusão.

Com isso, o trabalho dos acadêmicos ganharia credibilidade por trazer benefícios mais tangíveis para a causa da pessoa com deficiência. O critério científico poderia trazer boas ideias para mensurar a transformação entregue.

Além disso, o empresariado poderia investir em projetos do terceiro setor, pois ele seria amparado pela comunidade científica. Esse quadro representaria o alcance de resultados sociais ainda mais robustos e facilidade para captar investimento para a ciência e os projetos de inclusão. Assim, seria muito mais fácil democratizar recursos para estudos acadêmicos e valorizar variados perfis de pesquisa científica, garantindo acesso e equidade.

 Ciência mais valorizada significa mais conexão com o mercado, o que pode facilitar o atendimento do ODS 8 (trabalho decente e crescimento econômico).  Até porque, geralmente, cientistas trabalham em Universidades. Ensino superior valorizado significa criação de novas tecnologias, oferta de mão de obra especializada e facilidade para conectar oferta e demanda num mercado de trabalho.

 Como sugestão e direcionamentos, caberia desenvolver essa reflexão sobre como mensurar o impacto de projetos de inclusão e a produtividade da ciência. A discussão não se encerra aqui! Novas ideias precisam ser estudadas para aprofundar o debate.

 


Felipe Emilio Gruetzmacher 
ASID Brasil – 2023

Referências:

¹ MATTEDI, Marcos Antônio; SPIESS, Maiko Rafael. A avaliação da produtividade científica. História, Ciência, Saúde-Moranguinhos, Rio de Janeiro, ano 24, n. 3, Jul-Sep. 2017
Disponível em: https://www.scielo.br/j/hcsm/a/sCRMkkBq6fy9WmgkgqR53Xy/?lang=pt#

 

Sobre o autor:

Felipe Gruetzmacher é um escritor que acredita muito no potencial de combinar ciência, esforços empresariais e projetos sociais. Tem interesse em estudar como essas três partes podem colaborar entre si.
Se você é algum empresário, organização do terceiro setor ou cientista e quer cocriar conosco, deixe seu comentário!

 

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Diversidade e Literatura #02 – Coluna de Edilayne Ribeiro

Diversidade e Literatura #02 - Coluna de Edilayne Ribeiro

A coluna Diversidade e Literatura, escrita por Edilayne Ribeiro, busca conectar a literatura da pauta de diversidade e inclusão. Todo mês, Edilayne seleciona uma obra literária e traz sua análise pessoal, compartilhando importantes pontos de reflexão.

Na Coluna de Dezembro, Edi traz reflexões de uma obra de 2019, chamada “Entre a surdez e a língua: outros sujeitos… novas relações (intérpretes e surdos desvelando sentidos e significados)”, de Silvana Elisa de Morais Schuber.

Qual é a relação entre a surdez e a língua?

Entre a surdez e a língua existe um vasto mundo de experiências, identidades e, principalmente, relações.

E é exatamente este o nome – “Entre a surdez e a língua: outros sujeitos… novas relações (intérpretes e surdos desvelando sentidos e significados)” – de um livro de 2019 escrito por Silvana Elisa de Morais Schubert, autora que se debruça aos estudos da educação inclusiva, mais especificamente a educação de surdos e a/o intérprete no contexto educacional.

Ao pensar em deficiência auditiva, logo pensamos em conceitos (“o que é essa deficiência?”) ou terminologias (“é errado falar ‘surdo-mudo’?”); também nos vem à cabeça preocupações com boas práticas (“como vou me comunicar com uma pessoa surda?”) e lembretes pro futuro (“preciso aprender Libras urgentemente!”), mas pouco tempo se dedica a realmente conhecer a realidade da comunidade surda, sua história, seus interesses, suas particularidades e suas relações.

Neste artigo, não falarei sobre a deficiência auditiva em si. (Para mais referências no assunto, consulte nosso ebook!). Quero, entretanto, compartilhar as reflexões mais marcantes que o livro me trouxe, especialmente por seu diferencial: a relação da pessoa surda com sua ou seu intérprete, em contextos educacionais, como a interpretação em Libras durante aulas nas escolas ou faculdades. Para analisar isso, a autora entrevistou sete intérpretes e oito pessoas surdas universitárias (e o mais legal de tudo é que as entrevistas estão transcritas na íntegra no final do livro!), e abaixo eu apresento alguns dos temas que mais emergiram dessas conversas.

Vale ressaltar que o livro aborda o contexto educacional, o que significa que as reflexões poderiam se modificar caso estivesse sendo abordada a interpretação em Libras em um evento ou em um vídeo, por exemplo.

Afeto: geralmente se dá um grande enfoque à técnica e à qualidade, mas quase não lembramos que, apesar desses itens serem importantes, existe algo que permeia o momento da interpretação em Libras em contextos educacionais: o afeto! Algumas pessoas entrevistadas mencionam que a confiança (ou a falta dela), bem como comportamentos éticos ou antiéticos da/o intérprete, interferem muito no contato e no dia-a-dia educacional. O vínculo afetivo, portanto, é a primeira grande construção que se faz nessa relação, e que deve ser melhor explorada na atuação desses profissionais.

Neutralidade: uma das regulamentações do Código de Ética da/o intérprete em Libras é manter a neutralidade em seu trabalho. Essa neutralidade diz respeito primeiramente às roupas e acessórios, pois é importante que use, por exemplo, roupas pretas, não esteja com joias ou estampas chamativas, faça uso de esmaltes em cores mais neutras, etc, para não desviar ou cansar a atenção da pessoa surda. Mas, outro ponto que a neutralidade aborda é a de opiniões. Será que é possível manter opiniões neutras durante a interpretação? Algumas e alguns intérpretes preferem ter uma abordagem mais tradicional e interpretar apenas o que é dito pelo/a professor/a, mas outros profissionais discordam dessa possibilidade, afirmando que não tem como se isentar completamente do sujeito intérprete, pois, conforme diz uma das entrevistadas, “nenhum discurso é completamente neutro”, já que “sempre há a influência de quem fala e da experiência de quem traduz”. Tradutores e intérpretes são sujeitos sócio-históricos, com ideias, desejos, valores, cultura, opiniões políticas e sociais, e etc, e, sendo o seu instrumento de trabalho a comunicação, essas características acabam impactando de alguma forma. Então, a neutralidade deve ser um questionamento importante para pensar o limite e a consequência de envolver muito mais do que uma tradução literal de informações.

Atuação pedagógica: na interpretação em Libras educacional, os outros atores da escola são muito importantes também! Vale considerar que aluna/o e intérprete não estão sozinhas/os nesse contexto, isto é, as e os professores precisam entender a importância dessa relação; a equipe pedagógica precisa decidir com cuidado em situações de necessidade de troca de intérprete; as e os colegas de sala devem agir com respeito e paciência no processo de inclusão; dentre outros. Aqui, conclui-se que todas e todos devem participar de uma educação inclusiva, para que cada aula, cada conteúdo, cada dúvida e explicação tenham sentido dentro e fora da escola ou faculdade.

Chegando ao fim dessas reflexões, não se pode esquecer que isso não estaria sendo colocado em pauta se não fosse o fato de que a/o intérprete é um direito da pessoa surda! Contudo, ainda se discute qual é o seu real papel nessa relação. No livro, reflete-se sobre a pessoa intérprete como uma ponte de ligação, questiona-se sobre ser também educadora ou apenas alguém que traduz… Mas, a conclusão que eu mais me apoio é: o profissional intérprete é um mediador de mediações! Não exerce protagonismo na história da pessoa surda, mas caminha ao seu lado sendo um dos principais participantes dela, tendo a língua de sinais como papel determinante.

Outros desdobramentos do livro – e que aqui eu menciono para dar o gostinho de “quero mais”! – são sobre a falta de reconhecimento legal e salarial do profissional intérprete; a história da educação surda e a origem desse profissional; a dependência existente nessa relação (quem depende de quem? Se a pessoa surda desaparece, o profissional de Libras também desaparece? Mas, por outro lado, sem o profissional intérprete, a pessoa surda corre o risco de estar silenciada nesses espaços?), e muito mais.

A língua de sinais, assim como toda língua, desempenha um papel central na construção da identidade e da cultura das pessoas. Neste caso, a Libras é a chave para a relação da pessoa surda com as demais pessoas, sua efetiva inclusão na sociedade e afirmação de sua autonomia. Mas, para além disso, a relação entre a surdez e a língua também aborda reflexões sobre igualdade de direitos, diversidade linguística, cultura, o caminho (ainda longo) a ser trilhado na educação inclusiva, e outros mundos que leituras com essa permitem que a gente acesse!

Edilayne Ribeiro 
ASID Brasil – 2023

Agradecimento especial à Lariessa Sampaio (colega e pessoa surda) e Bruna Garcia (colega e intérprete de Libras), que contribuíram na leitura deste texto antes de sua publicação.

Sobre a autora:

Edilayne Ribeiro é psicóloga, especialista em Neuropsicologia e mestra em Educação, membra da Comissão de Educação Inclusiva da Universidade Tuiuti do Paraná e palestrante nos temas pessoa com deficiência e sexualidade. Atualmente é Líder na ASID em Projetos de inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho.

Sobre a ASID Brasil:

A ASID Brasil é uma ONG que promove a inclusão socioeconômica da população com deficiência. Através dos pitches e pesquisas, a ASID Brasil entende melhor o cenário para oferecer sempre uma solução bem segmentada e focada nas dores dos beneficiários. Nossa literatura é uma forma de inovação social e bom uso de informações e dados para impactar o ecossistema de inclusão. Somos agentes empreendedores que alcançam a excelência realizando mudanças sociais movido a metodologias, estudos e inteligência plural.

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Selo Amigo Do Surdo Branco Redondo Hugo

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Em alinhamento com a Lei Geral de Proteção de Dados, garantimos a confidencialidade, segurança e integridade de seus dados pessoais, prevenindo a ocorrência de eventuais danos em virtude do tratamento dos mesmos. Para as solicitações dos titulares de dados, por favor, nos envie um e-mail.

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Inovação Social #02 – Coluna de Leonardo Mesquita

Inovação Social #02 - Coluna de Leonardo Mesquita

Quero compartilhar na coluna deste mês uma experiência que tive ao conversar com uma parceira da Comunidade Conexões, a comunidade da ASID Brasil que reúne lideranças e profissionais que atuam na causa da pessoa com deficiência em todo o Brasil.

Essa parceira solicitou uma agenda comigo para compartilhar um desafio que ela estava vivenciando na organização onde atua. Esse convite veio logo após a nossa Oficina de Inovação Social, onde fizemos algumas reflexões sobre demandas sociais, geração de ideias e modelagem de projetos. 

Ela trouxe a seguinte observação: muitas mulheres que frequentam a instituição, todas elas mães de alguma pessoa com deficiência atendida naquele local, passavam horas na organização aguardando o fim dos atendimentos dos filhos, interagiam pouco entre si, ficavam muito tempo no celular, entre outros comportamentos. A partir dessa observação, ela me perguntou sobre o que poderia ser feito para que essas mulheres utilizassem melhor esse tempo. Ela estava cheia de ideias, como por exemplo, criar alguma formação, algo relacionado à geração de renda, trazer alguma nova ocupação enquanto elas aguardavam os atendimentos.

Achei interessante essa observação e a preocupação dela em criar novas oportunidades para essas mulheres. Mas senti a necessidade de avançarmos em um outro sentido: Essa necessidade é de quem? É uma necessidade da pessoa observadora ou do público observado?

Vou aprofundar com você essa questão.

Necessidade de quem?

Quando atuamos com esse tipo de observação de demandas sociais, não podemos esquecer que estamos observando sob a ótica de nossos vieses. Por esse motivo, neste exemplo, é interessante questionar se a necessidade é daquelas mulheres ou na verdade é uma demanda ou necessidade da pessoa que observa e lidera o projeto social. 

Esse é um ponto de partida fundamental, onde nos conectamos com uma nova demanda. O próximo passo é investigar melhor esse contexto.

Começamos então a pensar sob a perspectiva do público observado. Com isso, chegamos a algumas hipóteses que compartilho a seguir.

  1. Por que essas mulheres ficam na instituição todo esse tempo? Há mulheres que apenas deixam os filhos na instituição e seguem para outros lugares e atividades?

    A líder da instituição compartilhou que o contexto dessas famílias é de vulnerabilidade socioeconômica. Assim, elas utilizam um transporte público e gratuito que elas têm direito para ir até a organização. Para muitas delas, voltar logo em seguida não é uma opção, já que isso teria um custo extra. Com isso, a permanência dessas mulheres se dá pela necessidade de utilizar o ônibus gratuito que fica disponível apenas no final do período da manhã ou da tarde.

    Então chegamos a uma nova hipótese de que talvez algumas dessas mulheres podem não desejar estar o tempo todo naquele local. Será que elas gostariam de usar esse tempo em outras atividades, em outros lugares?

  2. Considerando a hipótese de que elas não têm outra escolha a não ser esperar o término dos atendimentos, o que essas mulheres pensam ou sentem de fato? Elas foram ouvidas em algum momento?

  3. Por outro lado, em um contexto onde os filhos estão bem acompanhados pelos profissionais da instituição, será que esse não é um dos poucos momentos em que elas podem descansar ou usar o tempo para acessar a internet, aplicativos, conversar com amigos e familiares? Será que ao invés de ocupar o tempo com formações ou trabalho, um certo descanso momentâneo não é o melhor dos cenários?

    A partir dessas novas questões, começamos a gerar novas ideias. Por exemplo, a ideia de trazer atividades focadas no bem estar, saúde, no descanso, rodas de conversa. Ainda, considerando o desafio com relação ao deslocamento dessas mulheres, comentamos a possibilidade de um projeto focado em transporte gratuito para elas, diminuindo o tempo de permanência da organização. Perceba que abrimos novas possibilidades aqui.

    Concluindo a conversa com ela, compreendemos que, antes de pensarmos em projetos, em ideias, é fundamental a compreensão da demanda social e a participação ativa do público a ser beneficiado. Pesquisas, conversas, uma compreensão maior dos comportamentos e rotinas do público, são passos importantes para tirarmos conclusões e mitigar o efeito de nossos vieses sobre uma solução. Claro que, ao executar esses passos, essa parceira poderia chegar à conclusão de que sua ideia e hipótese inicial eram válidas e, de fato, ela deveria seguir um caminho de oferta de formações para essas mulheres. A diferença aqui é que a demanda foi validada e não é apenas uma idealização. 

Ler nas entrelinhas

Na semana seguinte à nossa conversa, mediamos um Encontro de Impacto com nossa Comunidade Conexões. O tema era Diagnóstico Social e trocamos algumas práticas e ferramentas. Em uma das discussões surgiu o termo “ler nas entrelinhas”. De fato, essa etapa inicial de investigação de uma demanda social exige essa leitura nas entrelinhas. Exige uma atenção para além daquilo que estamos observando. E, principalmente, exige uma curiosidade em buscar as raízes daqueles contextos.

O Encontro de Impacto sobre Diagnóstico Social foi facilitado pela Amanda Gogola, líder do portfólio de educação na ASID Brasil. Você pode conferir a gravação na íntegra neste endereço.

Se você e sua equipe estão nesta fase de diagnosticar alguma demanda social, aqui vão algumas dicas:

  1. Busque uma gestão participativa, envolvendo diferentes públicos relacionados com a demanda em questão;

  2. Pesquise, converse com o público envolvido. Preste atenção para que você não entre em julgamentos nesta etapa. Toda informação é válida sem a necessidade de tirar conclusões ainda;

  3. O modelo dos “5 Porquês” é uma boa forma de aprofundar nestas conversas e observações;

  4. Estruturar essas informações em uma “árvore de problemas” pode ajudar a compreender melhor as relações de causas e efeitos;

  5. Foque nas necessidades, comportamentos, rotinas e expectativas do público-alvo. Ferramentas como o Mapa da Empatia, Canvas da Proposta de Valor, Jornada ou Experiência de Usuários, são boas ferramentas para ajudar nessa etapa. Você pode conhecê-las aqui neste endereço;

  6. Use um “mapa de priorização de problemas” para ajudar em um plano de ação e na definição qual demanda específica será alvo da sua intervenção.

Todas essas informações poderão ser usadas também para elaboração de projetos e editais, apresentações para captação de recursos, definição de indicadores de impacto social, alinhamento com equipes de projetos e alinhamento com a comunidade local beneficiada.

Na próxima vez em que você se deparar com alguma demanda local, investigue, converse e, claro, leia nas entrelinhas.

Leonardo Mesquita
ASID Brasil 2023

Sobre o autor:

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