Inovação Social #10 - Coluna de Leonardo Mesquita

A transição para o encerramento de um projeto

A coluna deste mês é uma continuação de nossa última reflexão, sobre as fases do gerenciamento de projetos sociais. Desta vez, quero focar especificamente na última fase, a de Encerramento e Sustentabilidade. Esse tema é oportuno, pois, ao final da coluna, vou trazer um relato pessoal sobre o tema.

A preparação para o Encerramento e Sustentabilidade em um projeto social.

Como já conversamos, a fase de Encerramento é muito importante, apesar de, muitas vezes, não darmos muita atenção a ela. Aqui, avaliamos os resultados do projeto, documentamos as lições aprendidas e garantimos a sustentabilidade do impacto social. Nesta fase, todas as partes interessadas devem ser informadas sobre o fim do projeto.

A metodologia de gerenciamento de projetos sociais, Project D Pro, a qual seguimos para essa reflexão, traz quatro cenários possíveis para o encerramento de um projeto, cenários que nos dão base para a tomada de decisão.

  1. Encerramento
    Nesse cenário, o projeto está encerrado formalmente e todas as atividades de fechamento do projeto foram realizadas. Aqui, o projeto e nossa relação com as partes interessadas estão totalmente encerradas.

     

  2. Extensão
    Nesse caso, há uma negociação por um tempo extra para a conclusão do projeto. Esse é um cenário que ocorre quando, por exemplo, não atingimos algum resultado ou identificamos a necessidade de estender por mais tempo alguma intervenção.

     

  3. Expansão
    Já em um cenário de expansão, identifica-se a necessidade replicar a intervenção para um novo grupo de público-alvo ou novos territórios, por exemplo. Nesse caso, negocia-se com as partes interessadas a continuidade do projeto, mas de maneira expandida.

  4. Redesenho
    Por fim, um cenário de continuação por meio de uma nova fase do projeto, com intervenções ou atividades modificadas. Esse é um cenário onde pode-se identificar também melhorias ou até novas demandas sociais do público-alvo, decidindo-se por realizar ajustes nas metodologias para uma nova aplicação.

Assim, é fundamental que as lideranças de um projeto social, em conjunto com demais partes interessadas, mantenham no radar a chegada do encerramento do projeto, preparando análises que irão embasar a tomada de decisão dentro dos cenários acima. Vale ressaltar que o encerramento pode incluir também a transferência ou cessão das atividades para um parceiro, instituição ou comunidade local.

Deve-se avaliar, também, os impactos – positivos e negativos – que o encerramento de uma intervenção pode gerar para a comunidade local onde ela foi aplicada. Alguns questionamentos básicos para considerar:

  • Conseguimos atingir todos os objetivos esperados? De que forma?
  • Qual o nível de dependência e relacionamento que foi criado com o público-alvo? A finalização do projeto pode criar algum novo problema à comunidade local? Como podemos nos preparar para essa “saída”?
  • Qual o nível de participação e empoderamento do público-alvo?
  • Qual o legado que deixamos?
  • Quais as oportunidades de novas intervenções ou continuidades? A partir de uma primeira intervenção, há complementos que podem ser aplicados?

Ainda, a metodologia Project D Pro indica o uso de uma Matriz de Planejamento de Transição, guiando a liderança de um projeto neste processo. Você pode acessar a ferramenta no material completo da metodologia: Apostila Project D Pro.

Por fim, há processos internos que devemos levar em consideração e planejar sua transição, por exemplo:

  • Encerramento de contratos;
  • Encerramentos financeiros;
  • Encerramentos administrativos;
  • Processos de lições aprendidas e compartilhamento de conhecimentos;
  • Celebração de resultados obtidos.

Ciclos que se fecham

Assim como em projetos sociais, nossas jornadas pessoais e profissionais não deixam de ser grandes projetos e empreendimentos com início, meio e fim, em ciclos de diferentes tamanhos. Na minha jornada pessoal, demorei muito (e talvez não tenha aprendido totalmente) sobre o valor do processo de uma jornada, e não apenas o olhar para o resultado final em si. Muitas vezes, nossa principal evolução vem dos processos pelos quais passamos.

E aproveitando essa oportunidade onde conversarmos sobre ciclos de projetos e seus encerramentos, utilizo este importante espaço de trocas para compartilhar o fim de meu primeiro e enormemente gratificante ciclo aqui na ASID Brasil. Consequentemente, esta é minha última coluna nesta importante série de textos e reflexões.

Inicio minha jornada na ASID no ano de 2016, como estagiário de voluntariado corporativo. Na ocasião, eu era um jovem graduando em Engenharia de Computação, talvez um pouco confuso e frustrado com os caminhos que eu estava trilhando, e que encontrou na ASID a oportunidade de fazer um trabalho de impacto social de maneira remunerada e profissionalizada. Após uma jornada de 8 anos, me encontro como um homem mais maduro e consciente sobre nossa sociedade e sobre a importância de impulsionarmos a luta pela diversidade e inclusão.

Esse amadurecimento se deu por meio das oportunidades oferecidas pela ASID Brasil, enquanto organização, mas principalmente, pelas as pessoas que a compõe. Nessa quase década de trabalho, tive a oportunidade de me conectar com inúmeras pessoas, colegas de trabalho, com diferentes contextos e diferentes formas de perceber o mundo. Mas com a chama da inclusão sempre quente. É essa chama que possibilita a nossa união em um objetivo comum.

Para além do ambiente interno da ASID, fui agraciado com a responsabilidade de estabelecer conexões e relacionamentos com diversas pessoas que viriam a ser parceiras ou beneficiárias de nossos projetos. Com isso, pude conhecer uma enormidade de perfis, de localidades, de estruturas, de sonhos, de dores e frustrações, de pensamentos e metodologias e, principalmente, de conectar com um grande número de pessoas que lutam por um mesmo ideal. Isso me dá um grande otimismo sobre nosso futuro enquanto sociedade, apesar de nosso tempo presente não parecer tão otimista assim. Pude visitar diversas cidades pelo Brasil e entender que o acolhimento de diferentes culturas é parte fundamental para um processo de inovação, diversidade e inclusão. Pude vivenciar experiências internacionais e compreender que nós, aqui no Brasil, podemos sim liderar um movimento global de inclusão. Estamos avançados em muitos pontos e, naturalmente, temos muitos outros para ajustar.

Pude aprender a lidar com a frustração de não conseguir entregar algum resultado e de transformar alguma localidade. Nesses anos – e talvez tardiamente – compreendi que essa responsabilidade de transformação é coletiva e não individual.

Pude me desenvolver em diversos aspectos profissionais, me especializando em empreendedorismo social, em inovação social e agora, inspirado por inúmeras pessoas que conheci, iniciar uma graduação em Serviço Social.

Assim como trouxe no início do texto, sobre desafios em fazermos a transição para o fim de um projeto, estou aqui passando pelo desafio de encerrar um primeiro ciclo em um lugar que proporcionou tantas oportunidades e crescimento.

Com isso, dedico esta minha última coluna e meu agradecimento às centenas de pessoas com as quais tive a oportunidade de me conectar, em diferentes contextos e níveis de proximidade. A todas as pessoas da ASID Brasil, com quem pude compartilhar ideias, medos e, principalmente, caminhos para soluções. A todas as pessoas das Comunidades ASID Brasil, como as pessoas representantes de organizações sociais, que se esforçam para também construir uma sociedade inclusiva. Ou como as famílias com as quais tive contato, que mesmo com o medo e incerteza do futuro, depositam sua confiança em nosso trabalho e também acreditam que um trabalho coletivo é capaz de trazer grande transformação.

Meu agradecimento e gratidão a todas essas pessoas com as quais eu pude trocar, intensamente, experiências, em uma evolução conjunta.

Com muita certeza, seguiremos juntas e juntos na construção de uma sociedade inclusiva!

Sobre o autor:

Leonardo Mesquita é especialista em Gestão de Projetos Sociais e certificado em Lideranças de Inovações Sociais. Graduado em Engenharia de Computação e há 7 anos atua na ASID Brasil, liderando articulações de comunidades e processos de inovação social dentro da causa da pessoa com deficiência. Já esteve envolvido na coordenação de programas de voluntariado. Léo escreve sobre inovação social, ODS e como conectamos essas pautas com a causa da pessoa com deficiência.

 

Sobre a ASID Brasil:

A ASID Brasil é uma ONG que promove a inclusão socioeconômica da população com deficiência.Somos agentes empreendedores que alcançam a excelência realizando mudanças sociais movido a metodologias, estudos e inteligência plural.

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