Nos últimos anos, a discussão sobre diversidade e inclusão nas empresas ganhou destaque, refletindo uma busca por maior equidade no ambiente de trabalho, pessoas mais diversas e resultados mais realistas. As ações afirmativas e as grandes metas de diversidade estabelecidas por muitas empresas, seja no Brasil ou internacionalmente, foram aplaudidas como passos importantes em direção a uma sociedade mais inclusiva e representativa.
No entanto, o cenário atual aponta para um retrocesso preocupante: algumas das maiores empresas dos Estados Unidos, como Salesforce, BestBuy e Nordstrom, decidiram parar de divulgar metas e relatórios relacionados à diversidade e inclusão, conforme noticiado por sites como CNBN, Business Insider e, para uma leitura em português, o guia jornalístico The News. Esse movimento traz à tona uma série de inquietações sobre as consequências negativas que essa atitude pode gerar, especialmente para pessoas com deficiência, as quais serão abordadas abaixo.
A decisão de interromper a divulgação de metas de diversidade revela um desalinhamento entre o discurso e a prática, pois essas ações não são apenas ferramentas de atração, recrutamento e seleção de pessoas; elas representam um compromisso público com a construção de um ambiente mais equitativo e mais real, isto é, um reflexo da realidade diversa que existe em todas as outras esferas sociais.
Quando empresas deixam de executar essas ações e reportar esses dados, elas passam a mensagem de que a diversidade não é tão prioritária assim, e que pode ficar em segundo plano, sendo sacrificada por outras metas ou pressões externas que insistem em desvalorizar a necessidade de se ter uma cultura inclusiva. Portanto, isso não apenas diminui a transparência, mas também enfraquece a conexão de colaboradores e da sociedade em geral.
Em se tratando de pessoas com deficiência especificamente, essa mudança de postura das empresas pode destruir o pouco que já foi construído para esse público. Historicamente, pessoas com deficiência sempre enfrentaram barreiras significativas para ingressar e se manter no mercado de trabalho, desde preconceito (capacitismo), inseguranças, dificuldade na escolarização e desenvolvimento teórico, até falta de acessibilidade.
As metas de diversidade – que incluem políticas de contratação específicas, acompanhamento e desenvolvimento de colaboradores com deficiência, valorização de interseccionalidades, relatórios de progresso, dentre outros – são fundamentais para garantir que essas barreiras sejam combatidas, pois sem essas metas existe o risco de as ações de inclusão se tornarem cada vez menores e menos efetivas, levando novamente a um cenário de segregação, marginalização e exclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.
Além disso, o retrocesso nos compromissos com a diversidade pode impactar negativamente a cultura organizacional e o sentimento de pertencimento dos colaboradores. Para pessoas com deficiência, saber que suas necessidades são levadas a sério, que suas questões de acessibilidade são atendidas, que seu desenvolvimento é priorizado e que existem metas para melhorar sua inclusão independente de qual seja a função exercida na empresa é determinante para sua motivação, bem-estar e saúde mental preservados. Se essas metas deixam de ser apresentadas, pode-se gerar a impressão de que sua atuação na empresa é apenas tolerada, e não celebrada.
Outro ponto crítico de se reduzir a diversidade e/ou o registro de diversidade nas empresas é o impacto econômico. Diversos estudos atuais mostram que ambientes de trabalho mais diversos são mais lucrativos, que geram resultados mais assertivos e que têm ideias e estratégias mais inovadoras. A diminuição dessas iniciativas de diversidade e inclusão pode, portanto, acarretar em um declínio na competitividade das empresas. Para pessoas com deficiência, isso significa menos oportunidades de se desenvolverem profissionalmente e contribuírem com suas vivências e competências.
Em suma, a decisão de grandes empresas americanas de cessar a divulgação de metas em relatórios de diversidade tem inúmeras consequências profundas e negativas, especialmente para o público em questão. As metas de inclusão são mais do que números em relatórios; elas são compromissos públicos que moldam uma cultura e abrem espaço para ambientes de trabalho mais justos, mais reais, mais prazerosos e com mais equidade!
Renunciando a esses compromissos, as empresas enfraquecem sua atuação interna e externa, deixando de lado a oportunidade de desenvolver bons profissionais que, em paralelo, pertencem a marcadores sociais da diversidade. A longo prazo, isso pode significar um retorno ao passado de exclusão e de esquecimento de pautas sociais tão importantes, que estavam avançando pouco a pouco porém muito bem!
Edilayne Ribeiro
ASID Brasil – 2024
Sobre a autora:
Edilayne Ribeiro é psicóloga, especialista em Neuropsicologia e mestra em Educação, membra da Comissão de Educação Inclusiva da Universidade Tuiuti do Paraná e palestrante nos temas pessoa com deficiência e sexualidade. Atualmente é Líder na ASID em Projetos de inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho.
Sobre a ASID Brasil:
A ASID Brasil é uma ONG que promove a inclusão socioeconômica da população com deficiência. Somos agentes empreendedores que alcançam a excelência realizando mudanças sociais movido a metodologias, estudos e inteligência plural.
Existimos para quebrar as barreiras socioeconômicas que excluem a pessoa com deficiência.
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