Na coluna deste mês, seguimos compartilhando relatos e provocações reais de nossa comunidade de organizações parceiras.
Em um encontro presencial com organizações sociais de Curitiba, discutimos quais os principais requisitos para fortalecer o movimento de inclusão na cidade, na perspectiva da articulação de agentes locais. Essa foi uma conversa muito rica, onde as lideranças participantes compartilharam oportunidades, expectativas e desafios.
Uma das questões compartilhadas foi a percepção de concorrência entre as organizações, no sentido de que nem todas estão abertas para compartilhar seus conhecimentos, estratégias, com um receio de perder parceiros ou recursos. Foi compartilhado também a percepção de que organizações de menor porte não conseguem a mesma visibilidade daquelas de maior porte, dificultando assim a visibilidade de suas marcas na busca por novas oportunidades de captação de recursos.
Esses questionamentos me chamaram a atenção e fiquei pensando sobre os relatos compartilhados. Não pretendo responder essas questões, mas sim refletir a respeito.
De fato, também percebo em alguns momentos algo próximo ao que foi chamado de “concorrência no terceiro setor”. A primeira suposição que faço é a rotina intensa das organizações, de qualquer porte, em buscar sua sustentabilidade financeira. Aqui, as equipes das organizações buscam estratégias, investem grande esforço para que possam captar os recursos necessários para manter seus projetos. Talvez exista algum sentimento de “justiça”, no sentido de que uma organização se esforçou para viabilizar aqueles recursos e seria “injusto” simplesmente passar a receita pronta para outra organização. Mas aqui, indo para um campo material, não podemos deixar de avaliar como se dão as principais fontes de captação para projetos sociais.
Dados do BISC (Benchmarking do Investimento Social Corporativo), trazem que o investimento social corporativo (ISC) movimentou 4 bilhões de reais em 2022. Apenas 4% desse valor foi destinado a projetos para o público com deficiência. Já na perspectiva de editais e fundos públicos, como por exemplo o Pronas, foram solicitados 95 milhões de reais em projetos, no ano de 2021, e foram aprovados e liberados 71 milhões. Em 2023, como comparativo, a plataforma de monitoramento do Pronas sinaliza apenas 6 projetos solicitados, totalizando um orçamento de aproximadamente 7 milhões de reais. Por fim, não podemos desconsiderar os recursos livres que são viabilizados por campanhas de doações, financiamentos coletivos, venda de produtos, entre outras modalidades.
O investimento social em projetos voltados ao público com deficiência me parece ser pequeno relativo aos demais eixos de diversidade. Mas mesmo sendo um “bolo pequeno”, como as organizações estão compartilhando essas fatias?
Aqui chego em uma segunda reflexão, também sem respostas certas ainda. Tenho a percepção que ainda não usamos todo o potencial de articulação de redes locais para resolver os problemas sociais complexos de nossas comunidades.
Entendo que, ao olharmos para nossas fortalezas e fraquezas, abrimos um espaço para o estabelecimento de parcerias e articulações locais. Compreendemos que aquilo que desenvolvemos com maestria pode preencher lacunas em outros contextos, e que as minhas lacunas podem ser preenchidas por metodologias externas. Sempre na perspectiva de solucionar as demandas sociais que percebemos em nossas comunidades.
E voltando à provocação inicial relacionada com a captação de recursos: estamos olhando para nossas metodologias como um potencial de captação de recursos e geração de impacto social positivo?
Enquanto organizações sociais, com metodologias complementares, como estamos nos articulando localmente, estabelecendo parcerias para escrita conjunta de editais, contratação de organizações em projetos, criação de campanhas conjuntas para captação de recursos?
O tema de articulação em redes é muito interessante e também muito complexo. Em parceria com Instituto Mara Gabrilli, disponibilizamos gratuitamente o material digital “Rede: Conceitos, serviços e dinâmicas”, uma introdução a esse tema. O material está disponível aqui no site da ASID, na nossa seção de conteúdos.
Em colunas futuras, vou buscar abordar outras ferramentas de articulação, como o modelo de “Impacto Coletivo”. Por fim, o olhar para as nossas fortalezas tem grande influência em como comunicamos nosso impacto e damos maior visibilidade às nossas marcas, outro tema que terei grande interesse em compartilhar em nossas colunas.
Quero muito saber como estão as articulações locais em sua cidade e como você percebe a questão da concorrência no terceiro setor. Vamos conversar pelo seguinte endereço: [email protected]
Sobre o autor:
Leonardo Mesquita é especialista em Gestão de Projetos Sociais e certificado em Lideranças de Inovações Sociais. É graduado em Engenharia de Computação e há 7 anos atua na ASID Brasil, liderando articulações de comunidades e processos de inovação social dentro da causa da pessoa com deficiência. Já esteve envolvido na coordenação de programas de voluntariado. Léo escreve sobre inovação social, ODS e como conectamos essas pautas com a causa da pessoa com deficiência.
Sobre a ASID Brasil:
A ASID Brasil é uma ONG que promove a inclusão socioeconômica da população com deficiência.Somos agentes empreendedores que alcançam a excelência realizando mudanças sociais movido a metodologias, estudos e inteligência plural.
Existimos para quebrar as barreiras socioeconômicas que excluem a pessoa com deficiência.
Em alinhamento com a Lei Geral de Proteção de Dados, garantimos a confidencialidade, segurança e integridade de seus dados pessoais, prevenindo a ocorrência de eventuais danos em virtude do tratamento dos mesmos. Para as solicitações dos titulares de dados, por favor, nos envie um e-mail.
© 2022 ASID Brasil | Desenvolvido por Double2 Comunicação